A recente revolução popular no ocorrida Egito, que derrubou o ditador Hosni Mubarak e seu vice, Omar Suleiman, tem sido saudada como uma vitória das novas tecnologias, pelo importante papel que twitter, facebook e outras várias ferramentas tecnológicas de última geração desempenharam na comunicação entre os manifestantes. No entanto, a grande lição dessa vitória popular é uma só: a revolução se faz nas ruas. Também foi assim na Tunísia, onde o ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, no poder há 23 anos, teve que fugir do país após uma forte onda de protestos.
Toda miscelânea de tecnologia virtual é bem-vinda para facilitar a comunicação entre as pessoas, mas é a ação de gastar a sola de sapato e empunhar cartazes, faixas e bandeiras nas ruas, em direção aos centros do poder, que faz toda a diferença.
Na guerra não é diferente. Os militares sabem que nenhuma guerra é ganha apenas com o uso das tropas do Exército, Marinha ou mesmo da Aeronáutica. É preciso ocupar, palmo a palmo, o território inimigo. A verdadeira luta se faz no chão. Desde as primeiras guerras até as atuais, muito sofisticadas. Os Estados Unidos usaram principalmente a aviação para destruir toda a infraestrutura do Iraque. Mas, quando tiveram que usar seus soldados para ocupar cada rua, quadra ou esquina, as baixas foram se multiplicando e já estão próximas a seis mil, forçando o governo norte-americano a anunciar a retirada gradual daquele difícil território. Depois do Vietnã, mais uma guerra perdida. E no Afeganistão parece que será igual. Ninguém dobra a resistência de um povo com sangue nas veias e disposto a lutar.
Um ponto fundamental é lembrar que os Estados Unidos e vários países europeus apoiaram o ditador egípcio que, tal qual um faraó, já se mantinha há mais de 30 anos no comando. Cabe questionar também por que a mídia, tão constante em suas críticas a Cuba e ao Irã, por exemplo, nunca se referia ao Egito como uma ferrenha ditadura. Há muitas outras ditaduras apoiadas pelas principais potências ocidentais – e nunca citadas pela mídia – que não se cansam, porém, de enaltecer as virtudes da democracia. Mas isso essa é outra questão.
Foi a massa, mobilizada nas ruas que fez a revolução na Rússia. Foram mais de 11 milhões de trabalhadores e estudantes franceses que inspiraram gerações em todo o mundo, no lendário maio de 1968, a lutar por mudanças. Mobilizações nas ruas foram cruciais para a retomada da democracia no Brasil, com o memorável movimento das Diretas Já. Foi graças aos gritos que vieram das ruas, que o Congresso Nacional tirou do poder o então presidente Fernando Collor de Mello, por meio de um impeachment.
Na internet são muito comuns os abaixo-assinados. Tem para todos os tipos, gostos e credos. Eles são importantes para tomar consciência sobre alguns fatos que precisam ser alterados ou para impedir retrocessos e perda de direitos sociais fundamentais. Mas são costumeiramente insuficientes para obter sucesso nas causas defendidas. Só mesmo quando milhares de pessoas tomam consciência, se unem nas ruas e pressionam as autoridades, aumentam as chances de vitória. É preciso abandonar o conforto das residências e a comodidade do computador e ir para o meio da rua enfrentar riscos. Que não são pequenos. Estima-se em mais de 300 o número de mortos no Egito, com milhares de feridos. Mas o destemor e a persistência do povo mudaram novamente a história. A luta por mais dignidade e democracia no Egito está só começando. Mas um passo importante foi dado.
Mesmo os mais cruéis ditadores nunca resistiram à coragem de um povo que decide levar às ruas e às praças as lutas que acreditam. Sempre que um povo toma consciência da sua força e diz “basta”, a queda de quem o oprime é só uma questão de tempo.
Eduardo Machado é Secretário Geral Nacional do PHS, Presidente do IPHS e Curador da Fundação Solidarismo.
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