O extenso mar de lama vivido pelo PT não é só em função da conjuntura atual, mas fruto das más atitudes que foram cometidas no passado. O papel do PT na história do Brasil não será esquecido nem apagado, mas a realidade política brasileira é prova de que o partido foi se perdendo ao longo do caminho. Muitos acreditavam que o triunfo eleitoral só seria alcançado se o Partido abdicasse das lutas sociais e do socialismo. O erro fatal veio ao abrir mão de suas premissas básicas, de seus compromissos ideológicos para ficar “deglutível” aos olhos da burguesia e com isso conseguir ganhar as eleições. Nessa hora, o PT se nivelou por baixo aos demais partidos.
A grande decepção para com o PT vem em decorrência desta comparação entre o que ele era e o que passou a ser. O PT foi esmorecendo, perdendo força, mudando de cor, sua bancada que em outras épocas era manchetes nos jornais pela altivez e combatividade, se transformou num silencioso monastério. O PT veio perdendo a condição de protagonista, deixando de ser aglutinador das forças da esquerda, dos movimentos sociais. Deveria saber combinar a luta social com a luta institucional e não soube. Ao se afastar de sua missão original e superestimar a eleição como caminho preferencial, começou a se degenerar. E caiu em uma armadilha.
Além de confiar em partidos sem afinidades políticas e ideológicas, assumiu um padrão de campanha milionária, ver o Lula rasgando os céus do Brasil a bordo de jatinhos já fez com que naquela época eu me incomodasse. Esta opção eleitoral foi reduzindo o PT a uma sigla cartorial que, inclusive, atraiu muita gente que tinha interesses contrários àquilo que o PT defendia para a classe trabalhadora. Este conjunto de fatores levou o PT a esta grande crise e também o governo, porque está diretamente relacionado com esta modelagem. Estou convencido que há relação entre causa e efeito. Toda política tem uma ética correspondente. Se mudarmos a política, mudamos a ética. Logo, esta crise ética do PT é a crise da sua nova ética e conseqüência da sua virada na política.
É complicado destacar um erro específico, até porque houveram vários, mas merece destaque a estratégia do "não conflito" adotada pelo governo Lula. Ela foi desastrosa. Não que eu entenda que se deve "cair-no-braço" em cada esquina, mas tem que ter lutas, visíveis e concretas, com aqueles que sempre governaram o país, mesmo porque o governo Lula veio para mudar e era o que se esperava. Não se faz mudanças sem conflito. Quem renuncia ao conflito renuncia à possibilidade de mudanças. E Lula, além de renunciar ao conflito, apostou em uma base de sustentação composta por aqueles que sempre se opuseram às transformações. A tão propalada governabilidade de Lula resultou em efeito inverso, provocou a ingovernabilidade.
Diante de tantas decepções e desilusões, O PHS é a novidade que surge de toda esta problemática. Suas características e missão histórica ainda estão se definindo. No entanto, o referencial ideológico e um programa de caráter humanista cristão estão bem acentuados. O PHS vem com a tarefa de possibilitar um abrigo efetivo para os idealistas em decorrência de toda esta tempestade. Em seu programa está algo que me conforta e nega um doutrinarismo de extrema esquerda que sempre repulsei. Não se trata, portanto, da imposição de uma receita pré-estabelecida, hermética, fechada, imune às mudanças na realidade objetiva e a experiência viva das lutas sociais do nosso povo. Pois definir seus balizadores de estratégia e de princípio não significa estabelecer qualquer restrição a constantes atualizações, para melhor compreender e representar as novas demandas populares.